A Ovelha, a Moeda e os Dois Filhos: Parte 5 – O Pai que Busca
Como você reage ao perder algo? Você procura desesperadamente, ou espera quando tiver tempo para dar uma “olhada”? Você deixa de lado suas outras preocupações e foca na busca ou simplesmente “deixa pra lá”? É claro que a resposta depende se você perdeu uma moeda de cinco centavos ou se você perdeu seu cartão de crédito juntamente com sua senha do banco… É óbvio que a importância que damos ao processo de busca de algo perdido depende do valor que atribuímos ao que perdemos, certo?
Nesse caso, você ficará surpreso ao reparar que o pastor que perdeu a ovelha deixa as demais e vai buscar a perdida (Lucas 15.4), a mulher que perdeu a moeda varre toda a casa até encontrar (Lucas 15.8), mas o pai, ao “perder” o filho, não corre atrás deste ao “perdê-lo”. Uma vez que em qualquer cultura, especialmente entre os judeus, nada tinha mais valor que um filho, o que explica esse pai que não sai imediatamente em busca de seu filho perdido?
O pai, mesmo com muita dor no coração, sabia que o filho precisava sofrer as consequências de suas escolhas.
A resposta não está na pouca importância que dava ao filho. Primeiro porque ele, mesmo sabendo que o pedido do filho era inadequado e que ultrapassava seu direito de herança, concede ao filho o que este havia pedido. Caso ele não se importasse com seu filho, teria talvez rido do pedido absurdo, castigado o filho por sua insolência e ignorado categoricamente seu pedido. Em segundo lugar, a importância que o pai atribuía ao filho fica evidente no seu retorno. Ele não só o vê de longe, demonstrando que provavelmente estava esperando seu retorno, como corre em sua direção (Lucas 15.20). Em uma época em que homens de idade e dignidade não corriam, muito menos em direção a um filho que havia agido de forma impensada, o pai correndo em direção ao filho era um sinal de grande apreço. Por fim, ele não só acolhe o filho, como demonstra sua alegria por seu retorno com uma festa épica (Lucas 15.22-23). Definitivamente, esse pai amava seu filho.
Por que então o pai, dentre os três personagens que perderam algo de valor, não corre atrás do filho? A única explicação que encontro é que dos três, só o filho sabia voltar. Uma ovelha perdida não sabe voltar, uma moeda, como algo não consciente também não. O filho saiu deliberadamente, sabia sair e saberia, caso um dia “caísse em si” (Lucas 15.17), retornar. Na verdade, seu retorno só faria sentido se voltasse voluntariamente.
Como um homem de posses, ele certamente poderia ter contratado alguns homens para ir buscar seu filho e trazê-lo de volta. No entanto, forçar alguém a estar ao seu lado não ajuda a relação, nem amadurece a pessoa. Na verdade, caso o pai, movido por notícias da grande fome da região onde estava seu filho, tivesse mandado buscar o filho uma semana antes de ele cair em si, todo o processo de arrependimento de Deus na vida do rapaz teria sido interrompido. O pai, mesmo com muita dor no coração, sabia que o filho precisava sofrer as consequências de suas escolhas. Só então estaria pronto a retornar e começar um relacionamento renovado com seu pai.
O caminho de volta está não só sempre acessível, mas, no final dele, Deus nos aguarda com os braços abertos.
Esse desprendimento, essa decisão de esperar com o coração apertado, aponta para uma característica do coração do pai, que nessa parábola claramente simboliza Deus. Deus é aquele que nos ama, que cuida de nós, que nos oferece participação em sua herança, mas que não nos obriga a permanecer com ele. Seu amor, misericórdia e graça ficam ainda mais evidentes diante do acolhimento do filho. Repare que, muito embora o retorno do filho indicasse um arrependimento, o pai acolhe o filho sem nem sequer ouvir todo seu discurso de reconciliação (Lucas 15.21-22). Seu prazer em ter o filho perto não precisa de uma explicação formal.
Há pelo menos duas lições que eu tiro dessa representação do pai. (1) Deus me ama de forma incondicional. Isso não significa que minhas escolhas não tenham consequências, afinal o rapaz teve de comer comida de porco (Lucas 15.16). No entanto, o caminho de volta está não só sempre acessível, mas, no final dele, Deus nos aguarda com os braços abertos. (2) Não podemos forçar pessoas a ficarem conosco. Vamos ter pessoas queridas que precisam se afastar, talvez até comer comida de porco, para que cheguem ao verdadeiro arrependimento e possam retornar curadas de sua rebeldia. Minha oração é que sejamos, por um lado, como o filho perdido que, caindo em si, retorna ao pai – por outro lado, como o pai que está sempre pronto a acolher aquele que se afastou.
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